segunda-feira, 14 de setembro de 2015

ATIVIDADES DE INTERPRETAÇÃO - EF67LP37) Analisar, em diferentes textos, os efeitos de sentido decorrentes do uso de recursos linguístico-discursivos de prescrição - 6° ANO

O ENCANTAMENTO

    Júlio olhou. Ali estava a cena de que muito ouvira falar e lhe contestava a veracidade. No alto da copa retorcida de uma goiabeira, estava um bem-te-vi aflito, condenado à morte. Um fio invisível prendia-o e puxava-o inexoravelmente. Ele piava numa extrema aflição. Sabia que ia morrer, mas não conseguia libertar-se.
   Embaixo, de cabeça erguida e coleante, estava uma jararaca. Seu olhar fixo prendia o pobre bem-te-vi, que não conseguia livrar-se daquele encantamento. O réptil forçava o pássaro a descer. Hipnotizara-o. Mantinha-o preso desde o momento em que a ave, curiosa, baixara o olhar para verificar a origem do farfalhar, que se levantava do chão. Os dois olhares cruzaram-se. O réptil prendeu o pássaro. Fulminara-lhe a vontade. Não podia mais voar. E piando plangentemente pulou para o ramo que estava logo abaixo do seu pequeno corpo.
     Júlio teve ímpetos de matar a cobra. Mas um desejo cruel de assistir ao desfecho o manteve imóvel.
     O bem-te-vi deu novo pio e novo salto. Não era mais o seu canto vibrante, agudo, que traspassava a mata. Tinha algo de um grito plangente, de um apelo de socorro que quebrasse o mortal encantamento. Júlio teve pena do pássaro. Sabia que bastaria uma pedrada ou apenas um grito pra libertar o bem-te-vi, pois a serpente procuraria ver de onde partia o perigo. Também o réptil estava sujeito ao medo. E desde que voltasse a cabeça interromperia a sujeição hipnótica. A ave poderia fugir. Mas a sua curiosidade era maior. Queria ver o fim.
    E esse não tardou. O bem-te-vi soltou um pio ainda mais plangente e com as asas abertas pousou no chão.
    A jararaca moveu-se lentamente, num avanço cauteloso. Estava agora a pouco mais de um metro da ave aterrorizada.
   Mentalmente, Júlio torceu para que o pássaro reagisse e levantasse voo. Supunha, ainda, que a ave não percebera o réptil, confundido com o chão devido ao desenho da pele e cor de massapé. Mas não havia possibilidade de engano. A jararaca conseguira hipnotizar a ave, quando acertara o seu frio olhar, mortal, no olhar do pássaro, que imprudentemente espiara do alto para verificar o que era aquela mancha amarela a mover-se. E fora como se uma flecha lhe penetrasse no cérebro, matando- lhe a vontade. A fome do réptil mantinha-o preso, com firmeza. O bem-te-vi soltou mais um pio triste. A cobra avançou mais um palmo.
    No íntimo de Júlio, travou-se dura batalha entre a misericórdia e a curiosidade. O coração pulsava-lhe doidamente. Parecia ouvir-lhe as pancadas como se fosse na pele de um tambor. O pássaro desengonçado, o bico aberto, as asas distendidas, deu um passo em direção à jararaca, soltando o pio estrídulo, que traduzia o desespero do condenado à perda da vida.
   Foi então que no coração de Júlio reboou urna pancada mais forte. Venceu o sentimento de solidariedade com os mais fracos. Deitou a mão frenética a um galho seco. O estalido forte do lenho que parte foi acompanhada de um berro!        — Desgraçada!
 Ao mesmo tempo, o galho partido caía pesadamente no tronco da jararaca, que ficou aturdida.
  Quebrara-se o encanto malévolo.
  O bem-te-vi, liberto do olhar, que o mantinha cativo, ruflou as asas e disparou num voo fulminante, como flecha saída do arco. Surpreendida e contundida, a cobra desfez as suas roscas e coleou com rapidez a refugiar-se em um lugar de capim alto, onde ficaria mais segura.
   Erguendo o olhar para o céu, onde grossas nuvens eram tangidas pelo vento, Júlio exclamou, satisfeito consigo mesmo:
 — Puxa! Foi mesmo na horinha!
                                                                                               (Barros Ferreira)


ANALISANDO O TEXTO

1- Quem é a personagem principal da narrativa?

2- Há indicações a respeito do tempo e espaço em que os fatos acontecem?

3- Qual é o conflito central da narrativa?

4- Em que momento do texto a narrativa atinge seu momento de tensão máxima? ( clímax).

5- Qual é o desfecho da história?

6- O autor usa vários recursos de coesão para não repetir uma mesma palavra. Que palavras usa para não repetir a palavra cobra, bem- ti- vi?

7- Em vários momentos o autor faz uso de pronomes. Localize três momentos em que isso acontece e identifique a palavra a que se refere o pronome.

8- A palavra pena é usada em várias expressões. Explique o sentido de:

A- Conseguiu terminar o trabalho a duras penas.
B- Vale a pena participar do novo projeto da escola.
C- Aquele assassino cruel foi condenado à pena capital.
D- Ele está uma verdadeira pena depois da doença.


GABARITO

1- Júlio

2- Tempo indefinido; espaço; em algum lugar repleto de árvores e de touceiras de capim alto (trecho de uma mata ou pomar abandonado).

3- A dúvida entre misericórdia e a curiosidade.

4- No oitavo parágrafo, quando a cobra fica cada vez mais próxima do passarinho. Júlio sofre, mas ainda não venceu a batalha entre a curiosidade e a misericórdia. N o parágrafo seguinte, toma a decisão, e a história encaminha-se para o desfecho.

5- Desfeito o encanto, o pássaro dispara num voo fulminante, a cobra refugia-se em uma touceira de capim alto e o garoto aliviado, satisfeito consigo mesmo.

6- Para se referir a palavra cobra ele usa: o réptil, a jararaca, a serpente. Para se referir a bem – ti- vi ele usa: o pássaro, a ave.

7- “E fora como se uma flecha lhe penetrasse 
no cérebro, matando- lhe a vontade (penetrasse no cérebro do pássaro matando a vontade do pássaro) “O bem -ti- vi, liberto do olhar, que o mantinha cativo (...)” (= o bem- ti- vi)

8- a) Com muito esforço
b) Merece o sacrifício ou o trabalho que dá.
c) À morte
d) Muito leve, muito magro.

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